segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Ela virá, tenha certeza disso

E ela caminhava pelas ruas, sozinha, observando os pássaros que pousavam sobre os postes e os carros que passavam sem nenhuma tolerância à vida. Passos lentos e arrastados levavam-na Deus sabe para onde. Aqui acolá, ela batia em uma porta, mas era rejeitada.
Ninguém a quer, mas ela sempre bate a porta, apresentando-se educadamente e estendendo a mão. Mas a rejeitam mesmo assim. Ela não sabe quando começou a vagar, tampouco quando vai parar, mas sabe exatamente a onde ir. Sempre solidária ela estende a mão para os que estão em hora inoportuna, oferecendo-lhes uma oportunidade menos pesada a carregar.
Mas... Novamente ela é rejeitada pelo homem que dirigia um carro que capotou depois de acertar um posto, o homem estava bêbado e não reconheceu a chance de diminuir o fardo de paralisia corporal que passaria a carregar. Nem sempre ela foi negada pelas pessoas: há aquelas que a recebem até com cordialidade. Oferecem-lhe um pouco de café, suco, chá ou água, há aqueles que só lhe oferecem a gratidão pela ajuda, mas é mais que o suficiente para uma dama que trabalha sem remuneração.
E ela continuou caminhando pelas ruas sem saber se um dia receberia as férias ou demissão, mas sabe sempre aonde ir, mesmo que ninguém lhe diga. Nada tema, leitor, pois tal bondosa moça também chegará a sua porta, não há necessidade de procurá-la por aí. Aproveite o tempo antes da visita: curta seus parentes e amigos, faça coisas que gosta, descanse o corpo e a mente. Ela virá.
Sem pressa alguma.
Ela virá. Ela sempre veio. Ela sempre vem.
Batidas suaves na porta lhe avisarão que ela chegou. Uma ou duas batidas é o suficiente. Seja cortez, de-lhe um copo de água, pois a tempos que ela caminha sem descanso, ofereça uma cadeira confortável para que ela descanse seus pesados pés, converse um pouco com ela, pergunte sobre a ajuda e quem sabe ela volte depois. Mas ela virá. Relaxe, ela virá.
Ao abrir a porta, você verá uma dama de rosto distinto, com um suave sorriso e ela lhe dirá.
-Olá. É sua hora. Gostaria de me acompanhar, por favor?
E você dirá:
-Para onde iremos?
-Não é longe... Apenas me acompanhe e rápido chegaremos. É a glória que lhe espera.
-E quem é você?
-Ninguém muito importante... Apenas uma dama que quer lhe tirar um pesado fardo.
-Diga-me seu nome!
Ela ficará tímida, mas dirá em bom tom:
-Sou Morte, e sua hora chegou. Vamos?
Ela lhe dará o braço e para algum lugar ela irá lhe levar...

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Batidas do Coração 2

Eis que tu surge, cheio de luz, crescendo em glória e poder.
Invade a minha vida e me torna sua sombra
Faz-me querer estar ao seu lado para sempre
Arrasta-me com a fora de olhos arrebatadores

Quem dera-me que tu fostes para mim a minha estrela única
Tu é um astro-rei, um sol que brilha para todos
E brilha para mim, mas não sabe que estou aqui
Observando tua luz, tua glória, teu poder

Olha-me!!!
Olha-me!!!
Eu estou aqui!!!
Olha-me!!!

Não, tu não vais me ver nunca
Não sou estrela o suficiente para tragar teu olhar seleto
Tu és o astro-rei e eu... Bom, eu sou apenas eu
Um alguém que te olha pelos cantos

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Batidas do Coração

Se você me olhasse,olhasse, me visse...
Se você percebesse, percebesse, sentisse...
Se você quisesse, quisesse, me ouvisse...

Se você... Ah, se você me visse...

Para ti, não passo de mais uma que tu vês.
Convivo contigo, todos os dias, sem você perceber.
Perceber o amor que me faz sofrer.
Meu coração dói de amor por você.

Ouve a voz do meu coração,
olha nos meus olhos, mira minha visão,
escuta os sussurros que digo a ti, então,
olha para mim, toma uma ação!

Grito aos ventos o meu amor!
Declaro ao universo o que sinto com ardor!
Chamo-te, peço que cure a minha dor!
Salva-me, enche-me com teu esplendor!

Jamais saberei se tu me amas,
jamais andarei nas trilhas que tu andas,
jamais participarei das glórias que tu ganhas,
jamais saberei se tu me chamas...

Esquece minhas palavras.
Esquece que eu te amava.
Esquece que do teu amor eu precisava.
Já não importa, nunca importara.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nada mais que dormir

Enfim tudo estava calmo e monótono novamente, o silêncio entrava pelas portas e janelas da minha casa, escorregando pelos corredores, subindo as escadas sem usar sapatos, chegando ao meu quarto deixando tudo absolutamente propício ao sono. Como demorou para chegar.
Em minha cama rodeada de grades, que minha mãe chama costumeiramente de berço, um objeto está paralelo a ela. O vento o movimenta. O som que tal objeto produz me faz bocejar por longos segundos. Minha mãe entra em meu quarto como uma gata faceira, pega-me no colo e me pergunta se está tudo bem.
-Tão lindinho! Tão quietinho! Tão fofinho esse bebezinho! Oh, Daniel, como você me faz feliz! - minha mãe coloca-me no colo e anda comigo me fazendo mil perguntas, as quais não respondo.
Logo sou colocado de volta ao berço. Ela sai e fecha a porta devagar, talvez tivesse a intenção de não quebrar o silêncio que um domingo de manhã proporciona, mas era tarde: já havia acontecido no momento que ela surgiu pela porta saltitando. O silêncio retorna. Bocejo novamente. Tudo volta a tranquilidade dominical: o sol entrava por frestas produzidas por árvores atrás das janelas do meu quarto.
Absolutamente nada para se fazer, como desejei o tempo inteiro durante todo o domingo. Mais um bocejo, pálpebras pesadas, outro bocejo. Um pássaro pousa num galho e começa a cantar, eu estou sendo levado pelo mar da dama do sonho. Fecho os olhos, eu vejo estrelas cintilantes quicando em volta do berço, nem sei se é de manhã ainda ou se a noite chegou.
Mas ao sair, feche a porta...

Prosas de um adolescente entediado

O relógio do meu quarto sussurrava, sobre minha cabeça, um "tic-tac" contínuo e incomodante. Suspiro incomodado com o batuque do relógio. Estou sentado num banco de madeira rústica observando os jardins de minha mãe, chove torrencialmente lá fora. A pesar de o sol não estar à pino, eu sei que já passa do meio-dia por causa do irritante relógio.
Tento me concentrar no barulho da chuva e nos jardins.
Coitados, Estão sendo castigados por um crime que não cometeram, fazer o quê? Escuto trovões, vejo relâmpagos. Bocejo por causa da monotonia do meu quarto causada pela chuva e o "tic-tac" irritante do relógio, eu acredito que não exista lugar mais melancólico para se estar num domingo chuvoso ao meio-dia do que num quarto de um adolescente entediado que possui um relógio irritante.
Mais um bocejo entediado.
Eu me estico inteiro no banco, quase caio, logo volto à posição inicial em que eu me encontrava. Suspiro. Um passarinho toma banho no chafariz que existe no centro do jardim, um passarinho corajoso, pois como voará com as asas molhadas? Eu creio que o passarinho ouviu meus pensamentos, pois ele voou para um galho, protegendo-se da chuva. Sorrio com o que ocorre após.
O passarinho me observa como se confirmasse o que eu acabara de pensar.
Essa minha conclusão deve-se ao tediante domingo e do fartoso almoço às onze horas: barriga cheia, organismo sobrecarregado com a digestão, a chuva de verão, um passarinho que ouve pensamentos, um relógio irritante, nada para fazer e sono. Talvez seja o dia mais patético do ano.
O passarinho foi embora. Ouço passos pela casa. Meu pai está vindo, dou outro suspiro, minha atenção está divida entre os passos do meu pai, o batuque do relógio e os tamborins da chuva poderosa. Não sei o que pode ser mais entediante entre as três situações. Bocejo.
Espero dormir antes de meu pai pedir para eu fazer algo mais chato ainda com ele.

Precioso diário de um finado agricultor

Virei a última página daquele diário. Arrancara-me tantas lágrimas aquela leitura, que eu poderia encher um copo. Quem diria que o meu finado tio escrevia tão bem? O curioso é que ele era um mero agricultor. Suspiro ao perceber que o dia amanhecia: o sol organiza calmamente seus raios atrás de cada nuvem de chuva de ontem. A casa estava em silêncio.
Todos dormiam, menos eu.
Estou sentada na sala, diante de uma janela. A paisagem lá fora é bela, mas estou focada no diário que acabei de ler, ele está em meu colo. Novamente folheio as páginas devagar, desejando sentir tudo de novo. Alegria, tristeza, indignação. Como meu tio escrevia bem.
-Se fosse escritor, talvez estivesse vivo, mas se fosse escritor perderia sua ingenuidade literária... Ai, ai, tio querido... O senhor me fará falta verdadeiramente! - sorri ao perceber uma tímida lágrima molhando minhas bochechas. Uma brisa secou a lágrima.
Meu tio fora um aplicado agricultor, gostava de descrever sua roça todas as vezes que amanhecia. Eu era menina quando ele me acordava às cinco e meia da manhã para ouvir sua "narração-descrição": narrava o nascer-do-sol descrevendo sua roça. Algo simples, mas prazeroso.
Agora, vendo o sol nascer através de minha janela, eu sinto as mesmas emoções daquela época tão bela, lembranças agridoces, um sentimento precioso. Suspiro, foi um esforço mental, mas valera a pena. Acaricio a capa do diário uma última vez e o guardo na estante, aquela carícia foi um abraço de adeus. Bom descanso, meu finado, precioso, tio escritor-agricultor. Vou para o quarto dormir. Já eram cinco da manhã.