E ela caminhava pelas ruas, sozinha, observando os pássaros que pousavam sobre os postes e os carros que passavam sem nenhuma tolerância à vida. Passos lentos e arrastados levavam-na Deus sabe para onde. Aqui acolá, ela batia em uma porta, mas era rejeitada.
Ninguém a quer, mas ela sempre bate a porta, apresentando-se educadamente e estendendo a mão. Mas a rejeitam mesmo assim. Ela não sabe quando começou a vagar, tampouco quando vai parar, mas sabe exatamente a onde ir. Sempre solidária ela estende a mão para os que estão em hora inoportuna, oferecendo-lhes uma oportunidade menos pesada a carregar.
Mas... Novamente ela é rejeitada pelo homem que dirigia um carro que capotou depois de acertar um posto, o homem estava bêbado e não reconheceu a chance de diminuir o fardo de paralisia corporal que passaria a carregar. Nem sempre ela foi negada pelas pessoas: há aquelas que a recebem até com cordialidade. Oferecem-lhe um pouco de café, suco, chá ou água, há aqueles que só lhe oferecem a gratidão pela ajuda, mas é mais que o suficiente para uma dama que trabalha sem remuneração.
E ela continuou caminhando pelas ruas sem saber se um dia receberia as férias ou demissão, mas sabe sempre aonde ir, mesmo que ninguém lhe diga. Nada tema, leitor, pois tal bondosa moça também chegará a sua porta, não há necessidade de procurá-la por aí. Aproveite o tempo antes da visita: curta seus parentes e amigos, faça coisas que gosta, descanse o corpo e a mente. Ela virá.
Sem pressa alguma.
Ela virá. Ela sempre veio. Ela sempre vem.
Batidas suaves na porta lhe avisarão que ela chegou. Uma ou duas batidas é o suficiente. Seja cortez, de-lhe um copo de água, pois a tempos que ela caminha sem descanso, ofereça uma cadeira confortável para que ela descanse seus pesados pés, converse um pouco com ela, pergunte sobre a ajuda e quem sabe ela volte depois. Mas ela virá. Relaxe, ela virá.
Ao abrir a porta, você verá uma dama de rosto distinto, com um suave sorriso e ela lhe dirá.
-Olá. É sua hora. Gostaria de me acompanhar, por favor?
E você dirá:
-Para onde iremos?
-Não é longe... Apenas me acompanhe e rápido chegaremos. É a glória que lhe espera.
-E quem é você?
-Ninguém muito importante... Apenas uma dama que quer lhe tirar um pesado fardo.
-Diga-me seu nome!
Ela ficará tímida, mas dirá em bom tom:
-Sou Morte, e sua hora chegou. Vamos?
Ela lhe dará o braço e para algum lugar ela irá lhe levar...